Tuesday, April 24, 2007

(In)Justiça

Releu pela enésima vez o acórdão que acabara de receber da Relação.
Não podia acreditar.
Não era possível que tamanha injustiça pudesse emanar de um tribunal apelidado de "superior".
Superioridade, ali, só do ego do Sr. Desembargador que tivera o desplante de o assinar e de nele verter a sua suprema falta de carácter e de vergonha...
A frase que não lhe abandonava o olhar e o pensamento era ofensiva à sua própria pessoa.
Toldada pela raiva e pela sensação de impotência, não conseguia digerir o facto de não lhe ser permitido espancar a vil criatura.
Porque, apesar de tudo, não desceria tão baixo como o despudorado juiz.
Em meia dúzia de linhas, via atropelados todos os valores porque diariamente se batia e teve um breve vislumbre do que o comum dos mortais apelidava de "crise da justiça".
De "órgão de soberania", o Tribunal passara a "órgão de sobranceria".
Respirou fundo. Várias vezes.
Depois de um libertador murro na porta do gabinete (que se assemelhou, momentaneamente e para mal dos seus pecados, à cara rubicunda do odioso magistrado), pensou na outra sentença que recebera.
Naquela onde se acabara de repôr a mais elementar justiça num drama de anos...
"Nem todos os magistrados são magistrais", pensou alto para afastar a névoa que lhe cobria a alma.

Atacou o recurso, com a serenidade de quem conseguia dormir à noite.

Só depois conseguiu voltar a sorrir...

Tuesday, December 26, 2006

Amor

Sempre me esforço por um pouquinho mais de reflexão nesta quadra que me diz tanto.
Porque preciso de sentir o menino furar o meu coração para o poder acolher verdadeiramente.
Alguém disse um dia "O Homem não vive onde mora, mas sim onde ama".
Descobri que tenho muitas casas espalhadas por esse mundo fora, completamente apetrechadas desde a cama à escova de dentes.

A todos os que me guardam um quartinho,
Um Santo e Feliz Natal!

Thursday, October 12, 2006

Amizade

Só porque sim.
A sério que não precisava de nada!
O telefonema tinha o único objectivo de lhe dizer que gostava muito dela.
Que tinha saudades.
Do seu sorriso maroto, das suas sobrancelhas espessas, dos seus olhos grandes.
Da sua forma de estar na vida, da sua força e da sua alegria.
Do seu carácter duro, mas generoso.
Da sua presença física na sua vida.
Das viagens e pessoas que partilharam.

Não disse que tinha saudades dele quando estava com ela.
Não disse que tinha saudades dos tempos em que não precisava de ter saudades dela.
Não disse que sentia a falta da juventude e da frescura que ele tinha quando partilharam tantos momentos.
Não precisava - ela ouviu na mesma.

Disse-lhe que se tinha lembrado dela e decidira ligar-lhe.
Disse-lhe que se tinha lembrado dela muitas outras vezes em que não tinha ligado.
Disse-lhe também que a considerava sua Amiga.
Daquelas que estão sempre lá quando é preciso, daquelas em que se confia e com quem se podem partilhar bons e maus momentos.
Disse-lhe que se tinha apercebido que sempre fora muito importante para ele, mesmo quando não tinha ainda pensado que ela era muito importante para ele.

Pediu-lhe desculpas.
Por nem sempre dizer que gostava dela.
Por nem sempre a convidar a estar presente nos acontecimentos da sua vida.
Por poder, em algum momento, tê-la feito pensar que ela não era importante para ele.

Disse-lhe tudo isto há já muito tempo.
Mas ela ainda se lembra, com emoção, de todas e cada uma das suas palavras.

Porque podiam perfeitamente ter saído da boca dela para o ouvido dele, com a mesma veracidade e ternura...

Porque são um delicioso Prego que carrega com leveza no coração...


Cumprimentos a Guimarães

Wednesday, July 05, 2006

Vitória

É verdade que não se pode ganhar sempre.
Mas não era "sempre".
Era só hoje!
Mais um passinho pequenino em direcção a um objectivo grandioso.
Possivelmente a culpa é minha...
Toda a gente sabe que os jogadores ouvem os adeptos, por mais longe que estejam, desde que estes gritem suficientemente alto e pode até ser que o meu POR-TU-GAL de hoje tenha deixado a desejar...
A equipa, essa, não deixou nada a desejar - esteve grande, bonita, cheia de garra.
Gostei de ver os nossos meninos em campo - pelo menos aquilo que as lágrimas me permitiram...
Embora (muito) triste, soube-me a Vitória.
O objectivo será alcançado noutra meia-final, que levará a uma final vencedora.
E eu estarei cá para Ver-nos Vencer.
Rouca de emoção...

Bravo, Heróis do meu Mar...

Friday, June 16, 2006

Suspiro

A conversa trazia-lhe demasiadas recordações.
Das boas. Das dolorosas, portanto.
Dos pequenos nadas do dia-a-dia, que há já muito lhe não pertenciam.
Tinha outros, os seus, os novos.
Mas, por efeito do Desencanto, nenhum lhe servia agora de grande consolo.
Perdera milhares de concertos, lançamentos de livros, viagens de combóio rumo a festivais de cinema em nobres vilas.
Perdera os pequenos almoços em cafés envidraçados e os "raptos" para jantares cansados, mas reconfortantes, no fim de um intenso dia de trabalho.
Perdera os teatros interactivos, com jantar incluído, que se espraiavam por botânicos jardins e os espectáculos incompreensíveis de danças com "contemporâneo" no nome.
Perdera os silêncios cúmplices e as confissões envergonhadas, de quem não aprendeu ainda a confiar.
Perdera as birras de maridos inconcebivelmente ciumentos e as descidas de rios com colegas que não sabiam nadar.
Perdera as viagens de autocarro e as intermináveis voltas à procura de um lugar para o seu precioso megane.
Perdera um excelente ambiente de trabalho e desafios que lhe estimulavam a mente arguta.
Ganhara tantas outras coisas boas...
Mas aquela Bruxa Má do Oeste estava a conseguir bloquear-lhe todas essas constatações.
Por isso a conversa lhe trazia demasiadas recordações.

Suspirou - Que saudades de ser senhor de si próprio.
Um pequeno amontoado de ar que significava um profundo grito de alma.

Ouviu-se aqui.


Cumprimentos a Macau

Tuesday, April 25, 2006

Abril

32 anos depois de um dos dias mais importantes da vida de Portugal, completo um mês depois do passo mais importante da minha vida.
32 anos completos, maduros, plenos de democracia.
30 dias completos, suculentos, plenos de felicidade...
32 anos de revolução.
30 dias de liberdade.
Não mais serei "uma", mas eternamente "una"!
Este Abril é (sou) verdadeiramente mais feliz...

Wednesday, January 04, 2006

Balanço

Os 365 longos dias que constituem o ano escoaram-se, arenosos, na tortuosa ampulheta da minha vida.
O jovem novo ano que já vivo sorri-me, dengoso, acendendo-me sonhos, inebriando-me com o seu inconfundível cheiro a futuro.

Balanço entre a vontade de reviver o passado que já foi e vontade de viver o futuro que virá.
Balanço entre as saudades dos momentos que passaram e as emoções dos momentos que sei que chegarão.
Balanço entre os remorsos das coisas que não fiz, das palavras que calei e o consolo das promessas que sei que vou cumprir, o alívio dos gritos que darei.
Balanço, sobretudo, entre o amor que recebi e o que sei que receberei.

Balanço não é um substantivo.
Balanço, é um vertiginoso Verbo.

E não consigo deixar de sorrir, ao sentir que acabarei por cair para a frente.
Em cheio nos teus braços...