(In)Justiça
Não podia acreditar.
Não era possível que tamanha injustiça pudesse emanar de um tribunal apelidado de "superior".
Superioridade, ali, só do ego do Sr. Desembargador que tivera o desplante de o assinar e de nele verter a sua suprema falta de carácter e de vergonha...
A frase que não lhe abandonava o olhar e o pensamento era ofensiva à sua própria pessoa.
Toldada pela raiva e pela sensação de impotência, não conseguia digerir o facto de não lhe ser permitido espancar a vil criatura.
Porque, apesar de tudo, não desceria tão baixo como o despudorado juiz.
Em meia dúzia de linhas, via atropelados todos os valores porque diariamente se batia e teve um breve vislumbre do que o comum dos mortais apelidava de "crise da justiça".
De "órgão de soberania", o Tribunal passara a "órgão de sobranceria".
Respirou fundo. Várias vezes.
Depois de um libertador murro na porta do gabinete (que se assemelhou, momentaneamente e para mal dos seus pecados, à cara rubicunda do odioso magistrado), pensou na outra sentença que recebera.
Naquela onde se acabara de repôr a mais elementar justiça num drama de anos...
"Nem todos os magistrados são magistrais", pensou alto para afastar a névoa que lhe cobria a alma.
Atacou o recurso, com a serenidade de quem conseguia dormir à noite.
Só depois conseguiu voltar a sorrir...